Episódio 3 – Como fazer acontecer

Terceiro e último episódio do ABSOLAR Inside fala sobre os projetos pioneiros de armazenamento do Brasil


O terceiro episódio do ABSOLAR Inside aconteceu no dia 3 de setembro e trouxe aos espectadores um panorama dos projetos de armazenamento que existem no Brasil e as oportunidades e desafios da área. A jornalista Priscila Brandão e o âncora e Coordenador do GT de Armazenamento da ABSOLAR, Markus Vlasits, falaram com os convidados Marcio Takata, Diretor da Greener; e Ricardo Rüther, Professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O último episódio da série de armazenamento do ABSOLAR Inside teve mais de 3.200 inscritos!

Confira abaixo o conteúdo técnico de tudo o que aconteceu neste episódio:

Aplicações em armazenamento devem tornar o segmento cada vez mais presente no País


Markus Vlasits abriu o programa falando sobre o poder transformador do armazenamento químico e das baterias de alta performance, que possibilitaram até mesmo o uso de internet móvel e de aplicativos. Essa transformação está cada vez mais presente, principalmente nos setores elétrico e de eletromobilidade. Aproveitando a participação de Marcio Takata, Markus perguntou a ele quem são os pioneiros de armazenamento e quais os projetos da primeira geração. O diretor da Greener respondeu que o segmento está começando a ter relevância no Brasil e terá cada vez mais espaço nos próximos anos. Atualmente, já são observadas aplicações importantes, como soluções off-grid, projetos que permitem a redução de despesas de consumidores e novos modelos de negócios a partir do armazenamento, que estão sendo estruturados por empreendedores.

Baterias de segunda vida são tema de estudo da UFSC


Ricardo Rüther contou que, no laboratório da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), há um estudo sobre as baterias Nissan, de veículos elétricos, para o projeto de baterias de segunda vida. Como resultado, perceberam que é possível ter disponibilidade de 15 GWh-ano para segunda vida em 2025 e 100 GWh-ano em 2030. As características de funcionamento destes materiais são plenas e eles podem ser usados em aplicações estacionárias.

Markus comentou que a iniciativa da UFSC é muito interessante e relembrou dois temas-chave abordados nos episódios anteriores do ABSOLAR Inside: custo e reciclagem e baterias de segunda vida. Do ponto de vista técnico, há desafios a serem superados, como o fato de baterias envelhecerem de forma diferente e a necessidade do uso de software para maximizar o uso dessas baterias. No horizonte de tempo de 5 a 10 anos, haverá disponibilidade de baterias para uso estacionário. Marcio Takata complementou dizendo que a conexão da área de armazenamento com mercado automobilístico é importante, considerando-o como vetor do desenvolvimento tecnológico.

Convidados comentam os desafios diante dos projetos no mercado


De acordo com Rüther, o maior desafio para a implementação de projetos é a disponibilidade de baterias no mercado, que é muito aquecido dada a queda de preços. “Temos dificuldade em atender prazos de projetos e a variação cambial também é um problema grande”, afirma. Em relação à regulamentação, projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) têm contribuído para a construção e evolução de iniciativas.

Marcio Takata comentou a fala do professor da UFSC dizendo que, apesar dos desafios, há condições bastante atrativas em regiões do Brasil, para diferentes perfis de consumidores. “Há casos de aplicação entregando maior confiabilidade e redução de despesas para consumidores. A visão que eu tenho hoje é que a evolução vai acontecer mais rápido do que imaginávamos antes”, disse. Segundo Markus, Rüther não mencionou durabilidade, aplicabilidade ou segurança, o que indica que a parte tecnológica está pacificada e a solução está pronta para ser utilizada. “É importante otimizar projetos para que sua utilização ganhe escala“, afirma o âncora.

Cada cliente é um projeto


Rüther aconselhou que, quem pensa em implementar projetos, procure clientes que justifiquem o uso intensivo da bateria de lítio. O professor afirmou que, de acordo com a tarifa, faz sentido usar sistema de armazenamento para competir com tarifa na ponta. Markus completou que a fala de Rüther se tratava de aplicação clássica atrás do medidor. No ponto de vista do âncora e Coordenador do GT de Armazenamento da ABSOLAR, avaliar um projeto de armazenamento passa por avaliar o contexto do cliente. “Por exemplo, um centro de logística no estado de São Paulo começou como um projeto fotovoltaico, mas o cliente cogitou o uso de geração a diesel e mostramos a ele que sistema híbrido de fotovoltaica com baterias tira a dor de cabeça de manutenção e operação, além de ter um custo melhor do que a operação a diesel 24 horas”, disse.

Para Takata, existe o sentido econômico à muitos consumidores, não apenas para o gerenciamento da demanda, mas também complementando este benefício com outros. Isso traz vantagens econômicas, estabilidade à rede elétrica local e benefícios que são estendidos aos demais consumidores. Em algumas situações, já se viabiliza o conjunto de solar com armazenamento, inclusive, para aplicações de média tensão.

Principais dúvidas dos telespectadores são respondidas pelos convidados


Durante dois momentos do programa, a jornalista Priscila Brandão abriu espaço para que os convidados respondessem perguntas feitas pelos telespectadores. Confira abaixo:

Existe a possibilidade de utilização de carros elétricos para arbitragem entre as tarifas ponta e fora ponta?

Markus Vlasits: Este é um ponto de aplicação interessante. Nos Estados Unidos, se chama “vehicle to grid” e já há projetos-piloto no Japão e na Dinamarca. Este segundo é um país pequeno, com bastante geração eólica, que é uma fonte energética intermitente. Baterias tanto estacionárias como móveis são usadas para gerenciar esta energia. Em um futuro não muito distante, consumidores, como nós, pagaremos tarifas binômias mais baratas de dia e mais caras à noite. Poderemos carregar nosso veículo elétrico de dia e utilizar energia à noite. O veículo elétrico prestará serviço de estabilização à rede. Por exemplo, o carro elétrico é carregado durante um jantar em um restaurante e potencialmente torna o jantar “grátis” por estar prestando serviços à rede.

Marcio Takata: O veículo elétrico fará parte de recursos elétricos distribuídos. A monetização para esse tipo de aplicação depende de regulação.

Quais seriam as aplicações diferentes à off-grid que o Marcio comentou? Quais os tipos aplicáveis aos consumidores B?

Markus Vlasits: Aplicações conectadas à rede se distinguem entre atrás do medidor e em frente do medidor. Em relação ao grupo B, são atrás do medidor, onde vislumbramos três funcionalidades básicas: injetar energia em momentos em que a eletricidade é muito cara, fazer gestão da demanda e fazer backup de energia. No caso do grupo B, mencionamos no episódio anterior sobre a possibilidade da tarifa branca, na qual aplicações são válidas. Em muitos locais turísticos brasileiros, a qualidade de energia é baixa, o que beneficia o backup.

Marcio Takata: Um exemplo de backup na classe B foi utilizado na Greener e está sendo fundamental. Temos atividades sensíveis a prazo, nas quais a falta de energia tem forte impacto. Neste caso, o retorno de investimento em sistema de armazenamento se mostra muito grande, nos garantindo a possibilidade de mantermos nossas atividades em caso de queda de energia. Grande parte de consumidores em média tensão fazem uso de tarifas diferenciadas por horário. A solução de arbitragem é modelo de negócio bastante atrativo para diferentes regiões e concessionárias do Brasil, em progressão à redução do Capex dos sistemas de armazenamento. A redução de demanda é outra aplicação interessante. Em caso de limitações de acesso à rede de distribuição, soluções de armazenamento podem aumentar a autonomia do consumidor.

Markus Vlasits: Duas aplicações interessantes no médio prazo são os serviços ancilares, com o uso de bateria não apenas para que usuário se proteja contra oscilações, mas que estabilizem a rede para terceiros. Outro exemplo é a introdução do PLD horário, que acontecerá no ano que vem, no qual consumidores terão preço diferenciado a cada hora.

Poderiam comentar também sobre armazenagem utilizando processos mecânicos e/ou térmicos, além dos eletroquímicos?

Markus Vlasits: Quando falamos de armazenamento não-eletroquímico, temos processos mecânicos, térmicos e também o exemplo de PCHs reversíveis, por meio do armazenamento de água. Há vários projetos de armazenamento mecânico, a partir do uso de blocos de concreto. São instalações grandes, enquanto baterias eletroquímicas são compactas e práticas.

Salas privativas


Durante o ABSOLAR Inside, os telespectadores puderam participar de duas salas privativas com diferentes conteúdos, apresentados pelos parceiros BV e Ecori. Confira o que rolou em cada uma:

Sala BV – Economia no mercado de energia solar

Na sala BV, tivemos a apresentação do Roberto Padovani, Economista Chefe da BV, trazendo o motivo pelo qual a BV considera o mercado fotovoltaico como estratégico para a BV, para o Brasil e para consumidores.

Vivemos em um país com um histórico de choques de custos e volatilidade histórica das tarifas de eletricidade. Há grande pressão por controle de custos e aumento de eficiência em empresas. Adicionalmente, contratos de fornecimento de eletricidade são expostos a choques cambiais. Todos estes problemas representam oportunidade para consumidores, com juros baixos e dólar em queda, o que irá baratear ainda mais os equipamentos.

O mercado de energia é marcado por incertezas regulatórias e ambientais. Em 2012, foi forçada queda de tarifas, que depois foram realinhadas entre 2014 e 2015. Há restrições para a produção de usinas hidrelétricas e problemas hidrológicos por conta do regime de chuva. Nesses momentos, mais energia é gerada por termelétricas, o que contribui para o aumento do preço da eletricidade.

A contração de renda no País é a maior desde 2006. Atualmente, o faturamento das empresas está se recuperando, mas ainda está em níveis recessivos. Juros reais estão negativos pela primeira vez no Brasil e os juros futuros também tendem a ser baixos.

A BV analisou que os movimentos atuais de câmbio, assim como a taxa real do câmbio indicam que o dólar deve cair e voltar a ter média histórica. Juros e financiamento barato aliados à queda de preço de equipamentos importados fotovoltaicos são excelentes oportunidades para investir em sistemas fotovoltaicos no momento.

Sala Ecori – O que uma distribuidora de equipamentos pode fazer por você, seu negócio e seus clientes

A sala privativa da Ecori abordou as melhores práticas de fornecedores e contou com uma apresentação do Leandro Martins, Presidente da Ecori. Segundo ele, ao se escolher uma empresa fornecedora é importante que sejam prestados serviços para além da importação e venda do produto.

A Ecori tem uma equipe que presta suporte ao revendedor, um departamento comercial com engenheiros eletricistas, que conseguem entender em um nível mais profundo as questões tecnológicas e de projeto. A empresa também realiza um trabalho de curadoria, buscando novos equipamentos para serem trazidos ao Brasil.

Outro benefício é uma equipe de apoio ao revendedor, que consegue atuar até mesmo contribuindo em reuniões de fechamento de propostas com clientes. Assim, a empresa se sente mais confortável em saber que a fornecedora dos equipamentos está engajada com o tema. O revendedor da Ecori pode vender sem ter estoque, que é coberto pela empresa. Muitos entendem o passivo de se vender para o cliente final, já que ele busca o melhor preço e qualidade, muitas vezes sem saber os parâmetros da qualidade. Deve ser um objetivo de todos trabalhar a educação do consumidor, já que uma venda levará a outra.

Quais são os próximos passos da ABSOLAR no mercado de armazenamento?


Markus explicou que a ABSOLAR pretende contratar uma consultoria especializada para quantificar benefícios de diferentes formas de armazenamento para o setor elétrico brasileiro. A associação irá provocar os tomadores de decisão com proposta de políticas públicas. O âncora chamou os associados da ABSOLAR a participarem do projeto, com cotas diferenciadas de participação e vantagens específicas, como informações internas, associação de marca a tema em crescimento e acesso às reuniões com tomadores de decisão. “Temos na ABSOLAR um grupo muito ativo de armazenamento, junte-se a nós”, finaliza.