Principais dúvidas dos espectadores são respondidas pelos convidados
Durante o ABSOLAR Inside, a jornalista Priscila Brandão abriu um espaço para que os convidados respondessem algumas das perguntas que os espectadores fizeram no chat do programa. Confira:
Qual é a expectativa de vida útil média dos sistemas de armazenamento de energia por baterias hoje em dia? E como a evolução tecnológica tem contribuído com o aumento da vida útil desses sistemas nos últimos anos?
Adalberto Campello Filho: esse é um ponto recorrente que todos questionam. Um sistema de armazenamento pode possuir mais de 6 mil ciclos, sendo que um ciclo é uma carga e descarga completa da bateria. Considerando que é utilizado um ciclo diário, uma bateria pode ter mais de 6 mil dias de vida útil. A indústria tem investido no desenvolvimento em soluções para continuar a aumentar a vida útil dos sistemas. O aprimoramento da tecnologia tem sido de 100%, tanto que 5 anos atrás só existiam baterias com 3 mil ciclos.
Esse estudo pode ajudar em momentos parecidos como o da escassez hídrica, que tem acontecido nos últimos anos? O armazenamento pode de fato garantir uma possível garantia energética nesses casos mais extremos de baixa produção?
Markus Vlasits: a fonte hidrelétrica precisa ser complementada. Atualmente, a única fonte que escala com rapidez é a solar fotovoltaica, que precisa, também, de tecnologia para fazer o gerenciamento da carga. Assim, de forma a ter uma matriz mais resiliente e aumentar de forma significativa as fontes renováveis e variáveis, é necessário ter uma maior capacidade de sistemas de armazenamento. O tipo de tecnologia a ser utilizado (chumbo ácido, íon de lítio, entre outros) fica para o mercado decidir qual a melhor solução para o desafio.
Mariana Galhardo: o estudo de armazenamento traz um benchmarking internacional. Pode ser visto que outros países absorveram a flexibilidade e skills do sistema de armazenamento. Na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, por exemplo, nos leilões é obrigatório avaliar a utilização de sistemas de armazenamento com as fontes de energia. Já na Austrália, foram realizados leilões determinando a necessidade de contratação de armazenamento. Na California, depois do apagão em 2019, houve a necessidade de contratação de sistemas de armazenamento para resolver o problema da alta demanda e pouca fluência.
Adalberto Campello Filho: os sistemas de armazenamento trazem flexibilidade, segurança energética e podem ter um papel importante na crise hídrica.
Como os sistemas de armazenamento por baterias podem ajudar a reduzir a conta de energia elétrica dos consumidores residenciais, comerciais e industriais?
Jônatas Lima: um dos aspectos que me chama mais a atenção, é o de entregar diversos benefícios ou recursos num único sistema: arbitragem de preço e capacidade de armazenamento de energia quando ela tem preço mais baixo, para usar quando o preço está mais alto. Há também a aplicação para consumidor industrial ou comercial, que tem tarifas mais altas ou está em localidades onde os aspectos de qualidade de energia são menores. Ainda existem outros benefícios, como a redução de reativos e diminuição na oscilação de energia elétrica. O sistema de armazenamento, quando bem dimensionado, não serve apenas para gerenciar a demanda de energia elétrica e se apropriar dos deltas de preços, mas também agrega outros benefícios para maximizar a qualidade de energia elétrica.
Nos últimos anos, o preço das baterias tem diminuído. Isso pode ser considerado uma tendência para os próximos anos ou é esperado que esse preço estabilize em torno dos valores atuais?
Adalberto Campello Filho: o Markus fez uma explicação interessante, em que diz que o sistema de armazenamento de energia – composto por uma bateria, um sistema de potência, um sistema de refrigeração, segurança, gerenciamento e software – faz com que o equipamento se comunique de melhor forma com a rede. O desafio, portanto, é desenvolver uma cadeia de fornecimento mais competitiva. As baterias já tiveram redução de custo em, aproximadamente, 30%. No entanto, as baterias de chumbo ácido e de íon de lítio, por exemplo, têm preços que variam dependendo das commodities a nível global. Uma variação significativa dos principais componentes da bateria impacta no custo global.
Jônatas Lima: apesar da curva dos preços da bateria ainda estar em construção de barateamento, já podem se ver projetos sendo viabilizados, uma vez que os sistemas de armazenamento possuem a capacidade de entregar diversos benefícios. Naturalmente, podem viabilizar ainda mais a redução de preços.
Já existe a aplicação de baterias em residências? Quais os principais pontos que devem ser trabalhados para aumentar a viabilidade destes equipamentos para que todos possam se beneficiar da tecnologia?
Jônatas Lima: existem soluções robustas, mas no universo de consumidor de maior porte há mais alternativas para valorar os benefícios do sistema de armazenamento. O consumidor residencial ainda vive uma realidade tarifaria diferente que não permite que potencialize o uso de sistema de armazenamento.
Adalberto Campello Filho: é um desafio mais mercadológico do que tecnológico.
Markus Vlasits: no âmbito residencial, é razoável supor que a tarifa monômia será substituída por uma tarifa binômia, assim, a conta de luz de um consumidor residencial irá se assemelhar com as contas de luz do cliente comercial/industrial. Outra dinâmica interessante, é a sinergia com a mobilidade elétrica. A frota elétrica cresce de forma rápida, uma vez que, futuramente, o consumidor do carro elétrico poderá utilizá-lo para prestar serviços de armazenamento para a residência, abrindo um mercado de aplicações digitais.
Mariana Galhardo: precisamos de ajustes no arcabouço legal para entender como inserir o sistema de armazenamento quando conectado à rede, porque há duas opções quando o sistema está em um consumidor residencial: off-grid, que não é conectado à rede, ou on-grid, conectado à rede. Nesse último sistema, não há regras especificas das distribuidoras para absorver isso. A ABSOLAR deve trabalhar nessa questão ainda ao longo desse ano e do próximo.
Existe alguma iniciativa para possibilitar a arbitragem com o armazenamento (atrás do medidor), permitindo a injeção de energia na ponta e remunerando essa injeção de alguma forma?
Mariana Galhardo: esse modelo de negócio chama-se VPP. O arcabouço da VPP ainda não está 100% disponível, mas daqui alguns dois anos pode ser mais bem trabalhado. Em outros países já existe esse modelo.
Jônatas Lima: existem duas aplicações: a imediata e a VPP. De fato, para ter condição de arbitrar preço, consumir e devolver, não passa pelo técnico, mas pelos estímulos que têm para isso acontecer. A diferença de preço, por exemplo, precisa ser muito elevada e a proporção deve ser tecnicamente certa. De toda forma, o melhor modelo é de VPP. Existem agentes que agregam vários recursos distribuídos, dentre eles, o armazenamento com os devidos estímulos de preço de energia, num ambiente em tempo real com precificação segura e uma quantidade segura de geradores, microgeradores e facilities, que conseguem responder aos estímulos econômicos.
Markus Vlasits: sou fã desse modelo, mas ainda é necessário superar duas coisas: liberar o mercado e ver como está sendo computado o preço de energia de curto prazo. O PLD horário não reflete o real custo de energia no momento. Na Europa, por exemplo, o PLD é computado a cada 5 minutos, chegando a ficar negativo. O armazenamento se torna uma fonte de investimento gerando receita.
Adalberto Campello Filho: para o curto prazo, há o desafio de trabalhar na melhor equação tributária que viabilize mais riqueza no Brasil. Os arranjos tributário e regulatório são importantes para impulsionar para a aplicação de sistemas de armazenamento.
O Brasil é um País com grandes desafios na universalização do acesso à energia elétrica. Muitas comunidades vivem em sistemas isolados, não conectados com as redes de transmissão e distribuição, sendo a maioria abastecidos por energia elétrica gerada a partir de combustíveis fósseis e com elevados custos de produção. O armazenamento de energia pode contribuir de alguma forma com a transição desses sistemas para uma matriz de geração mais limpa e barata?
Adalberto Campello Filho: sim, é um tema importante e estratégico: gerar energia para comunidades isoladas, sendo maior parte no Norte do Brasil na região Amazônica. Dessa forma, há uma exigência de soluções que agreguem valor a isso, podendo reduzir as emissões e os custos. Entendo que a solução híbrida, fonte térmica com solar e armazenamento de energia, não só reduz os custos de geração como contribui para as questões ambientais. É possível que mais de 50% da geração seja de fonte renovável.
Jônatas Lima: o sistema de armazenamento potencializa a limpeza da matriz dos sistemas isolados. As fontes renováveis, por características próprias, são variáveis e têm dificuldade de entregar flexibilidade e confiabilidade, por isso é necessário a utilização de sistema de armazenamento.