Financiamento e o impacto do ESG na expansão da solar fotovoltaica nas empresas são temas da nova edição do ABSOLAR Inside


O novo episódio do programa digital ABSOLAR Inside foi ao ar no dia 1 de julho de 2021. A jornalista Priscila Brandão esteve ao vivo junto ao âncora Raphael Roque, coordenador do grupo de trabalho de financiamento da ABSOLAR. Os dois receberam como convidado Ricardo Lee, vice-presidente de project finance do Santander, para falar sobre o avanço no uso de mecanismos de financiamento para o segmento de geração distribuída (GD), aos moldes do que já vem acontecendo para a geração centralizada (GC). Junto aos parceiros convidados Carolina Reis, diretora comercial do Meu Financiamento Solar; Rodolfo Meyer, CEO do Portal Solar; e Victor Fernandes, CEO da Mutual, eles também comentaram sobre o impacto do ESG (sigla para environmental, social and corporate governance; em português “ambiental, social e governança”) na expansão da energia solar fotovoltaica nas empresas.

Confira abaixo tudo o que aconteceu no episódio:

Sustentabilidade e o mercado de financiamento


O mercado de sustentabilidade tem crescido muito nos últimos anos e já existem apostas neste movimento também no mercado financeiro. Segundo Raphael Roque, a preocupação com o impacto ambiental tem saído do discurso, com diversos bancos e fundos de investimento estruturando opções de investimento focados nesta visão. Em alguns casos, grandes investidores têm tolerado uma diminuição nos retornos financeiros, desde que justificados pelo impacto ambiental positivo.

Para Ricardo Lee, apesar das condições desafiadoras, os financiamentos e investimentos sustentáveis têm crescido bastante. “Obviamente isso passa por uma série de iniciativas, como energia renovável, carros elétricos entre outros temas”, disse. De acordo com o convidado, a temática veio para ficar e tem sido adotada pelos agentes de mercado.

Mercado financeiro: nova fronteira para financiamento de projetos de geração distribuída


Na visão de Ricardo Lee, os agentes do mercado de financiamento têm ajudado projetos de GD na utilização de produtos tipicamente usados para GC, como a emissão de debêntures, CRIs, entre outros. Isso tem levado o mercado para outro patamar e a geração distribuída tem se beneficiado desta transição.

De acordo com Raphael Roque, olhando pela ótica dos sistemas fotovoltaicos de pequeno porte na GD, as principais questões são despertar no cliente final o interesse em fazer a aquisição e fomentar iniciativas dos próprios bancos para ampliar o marketing e facilitar a liberação de crédito. Já para projetos maiores, as opções dependem muito da relação das empresas com os agentes de financiamento e do nível de conhecimento e percepção de risco dos bancos.

“Muitos bancos que ainda não têm conhecimento do mercado exigem critérios que são específicos para GC, que podem ser inaplicáveis, ou aumentar o custo da tomada do crédito, tornando o projeto inviável”, disse. O âncora informa que, nos últimos dois anos, alguns entusiastas têm conseguido estruturar mecanismos interessantes com os bancos. “Em termos de estrutura, tenho visto a criatividade entrando em jogo. Há empresas captando recursos por diversos mecanismos, como FIPs, FIDICs, debêntures, project finance e uma mescla de produtos”, explica. Raphael comenta que o mais comum tem sido as estruturas de project finance, que já são conhecidas, mas debêntures e CRIs têm começado a ser produtos com um grande interesse. Em alguns casos, eles já têm grande competitividade em relação às estruturas comuns de project finance.

Ricardo Lee complementou dizendo que mecanismos mais complexos exigem um volume maior, pois são difíceis de se conseguir para geração distribuída pela limitação de 5 MW imposta pela REN 482/2012. Então eles têm avaliado portfólios de projetos, muitas vezes em localidades diferentes. “É importante considerar que, para uma emissão de debêntures, quanto maior a complexidade do projeto e o risco atrelado, maior será o custo da solução”, informa.

Já existem soluções competitivas para GD no mercado de capitais?


Em entrevista concedida exclusivamente ao ABSOLAR Inside, Daniel Freitas, diretor presidente da Athon Energia, mencionou que o acesso aos bancos de fomento pela GD ainda é limitado. Isso abre espaço para que os empreendedores tentem soluções diferenciadas, como os oferecidos no mercado de capitais. No entanto, ainda existem alguns riscos que precisam ser mitigados, como o avanço do marco da geração própria de energia no Congresso Nacional. Este ponto em alguns casos tem dificultado o acesso às estruturas de maior prazo ou garantias adicionais, como carta fiança. Em projetos centralizados, essa captação ainda tem sido mais fácil.

Raphael Roque comentou que a possibilidade de debêntures incentivadas para geração distribuída poderia abrir um leque de novas estruturas. “Essa possibilidade seria um grande empurrão para a renovação da matriz energética”, disse. Na visão de Ricardo Lee, o marco legal da GD é importantíssimo, já que tem um impacto na percepção de risco dos investidores. Por outro lado, toda a estrutura contratual que é praxe em GC, ainda não está presente em muitos casos. “Quando se observa a geração distribuída, até pela própria característica em projetos menores, ainda se vê fragilidades em estruturas contratuais. Algumas empresas que atuam também no mercado de GC, pela experiência, já trazem blindagens contratuais de lá”, explica. De acordo com o Vice-Presidente de project finance do Banco Santander, um projeto bem estruturado já poderia conseguir financiamento de longo prazo. Ele reforça que aguarda por evoluções regulatórias e legais para a GD e o avanço da inclusão de projeto prioritário para infraestrutura para emissão de debêntures incentivadas para geração distribuída.

Mesa redonda discute as estruturas de financiamento para geração distribuída


Ao comentar sobre o volume de investidores interessados em produtos financeiros voltados a financiamento de projetos, Ricardo Lee mencionou que, no “passado recente”, houve uma redução do interesse do investidor em produtos de renda fixa e uma migração para a renda variável. “Agora, com o novo calendário para aumento da taxa básica de juros, espera-se um retorno dos investidores para a renda fixa. Isso deve melhorar o financiamento para infraestrutura”, disse.

De acordo com Carolina Reis, ainda falando sobre o cenário atual, o mercado de financiamento para geração distribuída tem uma trajetória crescente, ainda mais com o tema da crise hídrica em pauta. Ela afirma que tem observado um grande aumento na procura por financiamento nos últimos meses. Ao colocar sua experiência prática no mercado, Rodolfo Meyer comentou que em geração centralizada, a captação de recursos é muito mais fácil, já que as empresas têm contatos com grandes bancos e uma estrutura pronta. Já para o Ambiente de Contratação Livre (ACL), com projetos maiores que em GD, sua recomendação para empresas que ainda não tenham experiência no mercado financeiro seria procurar uma consultoria em project finance. Assim, haverá alguém focado em engenharia para orientar e ajudar a captar o recurso.

Este mesmo tipo de solução serve para um projeto de geração distribuída de maior porte, como projetos para aluguel. Para o CEO do Portal Solar, nestes casos o project finance costuma ser interessante. “Já o grande volume dos projetos de geração própria de energia solar, com investimento na ordem de até alguns milhões, o melhor caminho seria procurar as soluções de mercado. Nestas opções de varejo para micro e minigeração há várias soluções sem o gargalo de prazos. Já existem projetos com parcela de financiamento abaixo da economia mensal do cliente”, explica. Por outro lado, segundo Rodolfo, muitos consumidores estão endividados, então seria difícil o acesso às linhas mais competitivas.

“Atualmente, existem dificuldades para aceitar o sistema como garantia em muitos casos, então os bancos acabam exigindo garantias comuns. É claro que, em projetos mais estruturados, como aqueles voltados à aluguel, com contratos já firmados, não há empecilhos em usar o próprio projeto como garantia”, disse. Para Ricardo Lee, em uma estrutura de project finance, baseando-se apenas nas garantias do projeto, é necessário avaliar o risco, ou seja, quem é o cliente do projeto e qual a estrutura contratual. Se o contrato puder sem rescindido sem multas ou algum mecanismo semelhante, o banco tem um risco adicional. “Também é importante avaliar qual outro tipo de garantia pode ser agregada para mitigar o risco e dar o conforto ao financiador”, afirma.

De acordo com Victor Fernandes, é necessário avaliar o cenário de crédito total, com participação ainda de poucos players. Assim, a participação de fintechs tem ajudado a modelar diversos perfis de clientes, segmentar mais e alocar recursos de maior ou menor risco, democratizando a energia solar.

Principais dúvidas dos espectadores são respondidas pelos convidados


Durante o ABSOLAR Inside, a jornalista Priscila Brandão abriu um espaço para que os convidados respondessem algumas das perguntas que os espectadores fizeram no chat do programa. Confira:

Já tenho um projeto com a informação de acesso, viabilidade econômica e valor de investimento fechado para construção de uma usina de geração distribuída no estado do Ceará, com uma aplicação de aproximadamente R$ 35 milhões. Há linhas de financiamento para esse tamanho de projeto, ou pelo menos para parte dele?

Ricardo Lee: Sim. É um projeto de dimensão grande, mas ainda em um porte que se encontra na fronteira de viabilidade de uma estrutura de project finance. Neste caso, seria importante verificar os detalhes do projeto para avaliar as possibilidades.

Carolina Reis: Existem opções e os projetos precisam ser analisados caso a caso. Recomendo entrar em contato direto com o banco para avaliação.

Como o Meu Financiamento Solar ajuda o integrador no processo de vendas?

Carolina Reis: Muitas vezes, o integrador não sabe como convencer o cliente a partir para um financiamento. Assim, é fornecido todo o apoio necessário para que ele possa vender. O financiamento é totalmente aliado ao integrador, já que, às vezes, o cliente não quer desembolsar à vista, mas se ele consegue uma parcela abaixo da conta de luz, já é um retorno imediato. O Meu Financiamento Solar já vê empresas com mais de 70% das vendas sendo feitas de forma financiada.

 

Há alguns anos, existia gargalo para financiamento na GD. Como está a perspectiva para o segundo semestre deste ano?

Victor Fernandes: O desafio ainda é grande. Trazer alternativas para a pequenas empresas e pessoas físicas é o que vai ajudar a expandir o mercado. É importante abrir novas fronteiras para financiamento não somente baseado na garantia do sistema, mas outros financiamentos – como refinanciamento de residência ou veículo – bem como mecanismos multigarantias. É possível analisar outras garantias para abarcar cada caso. Existe uma expectativa muito grande para o mercado de energia solar fotovoltaica e, quanto mais gente divulgando o mercado, melhor para todos.

Há requisitos mínimos para se tornar um franqueado do Portal Solar? É necessário ter experiência?

Rodolfo Meyer: O objetivo é tentar reduzir processos e concentrar algumas coisas na franqueadora, então ficou uma franquia fácil de conduzir. São as pessoas que fazem a empresa, então há critérios específicos para franqueados, mas também centros de treinamento para dar todo o suporte necessário.

Como estão as opções de financiamento para pessoas físicas?

Victor Fernandes: Já existem vários tipos de recursos que democratizam este financiamento, possibilitando que muitas pessoas possam gerar a sua própria energia. Já é possível transitar em vários tipos de crédito e com uma aprovação mais simples.

O que a plataforma do Meu Financiamento Solar tem para agregar a este processo e o que podem ajudar?

Carolina Reis: A plataforma tem um serviço dedicado com pessoas que cuidam da conta de cada integrador com processos personalizados. No site, é possível encontrar simuladores de financiamento ou contato com o time de vendas.

Já está sendo possível usar o fundo garantidor do BNDES?

Rafael Roque: O fundo do BNDES ainda tem algumas limitações, como a origem do equipamento que se pode usar, entre outras. É um trabalho que o próprio grupo de trabalho de financiamento da ABSOLAR está tratando junto com o BNDES, para garantir a ampliação ao acesso, mas ainda temos um caminho a percorrer.