Episódio 1 – Solar no mercado livre de energia: a nova fronteira

Lançamento da nova temporada do programa ABSOLAR Inside traz informação de qualidade sobre o Mercado Livre de Energia


O primeiro episódio do ABSOLAR Inside: Mercado Livre de Energia foi ao ar no dia 3 de novembro de 2020. A jornalista Priscila Brandão apresentou o programa de TV digital ao lado do âncora e Vice-Presidente da ABSOLAR, Marcio Trannin. Os convidados Ricardo Barros, Head of Country da Lightsource BP; Pedro Vaquer, CEO da Solatio; e Alecio Barreto, CEO da Carpe Vie, falaram sobre o cenário atual da energia solar fotovoltaica no mercado livre de energia. Essa nova temporada do programa da ABSOLAR é uma continuidade do sucesso da primeira, quando o tema foi Armazenamento e abriu as portas para um formato revolucionário de informação dentro do setor.

Confira abaixo o resumo de tudo o que aconteceu no episódio de estreia.

A diferença entre o mercado regulado e o mercado livre de energia


No início do programa, Marcio Trannin explicou como o setor de energia se acostumou a crescer por meio de leilões regulados, com demanda estabelecida a partir da declaração das distribuidoras de energia elétrica ao governo. Nestes leilões, o governo convida os agentes com o objetivo de cumprir as necessidades de energia elétrica, por meio de um contrato, sobre o qual o agente gerador tem pouco ou nenhum poder de barganha. Já no mercado livre de energia, segundo Trannin, a demanda de energia é estabelecida por meio das necessidades dos clientes e suprida em negociações bilaterais. Nestas negociações, dadas as exigências diferentes de cada cliente, o agente gerador tem de estar mais apto a flexibilizar condições.

Ricardo Barros complementou a análise sob a visão do consumidor, que, no mercado cativo, só pode comprar energia da distribuidora, a preços pré-definidos e regulados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Por outro lado, no mercado livre de energia, que, de maneira simplificada, é restrito a consumidores a partir de 500 kW de demanda contratada, o consumidor pode contratar sua energia livremente, a exemplo do que acontece no mercado de telefonia. Neste segmento, ele também ganha poder de negociação, podendo estabelecer os critérios contratuais, como penalidades, condições técnicas, preços, prazos etc. Atualmente, este mercado corresponde a 30% da energia consumida no Brasil, com alto potencial de expansão.

Pedro Vaquer fala sobre as oportunidades e desafios da energia solar fotovoltaica no ACL


O CEO da Solatio afirmou que a financiabilidade é um grande desafio. Desta forma, o agente gerador deve selecionar com cuidado a contraparte, já que existe uma oferta limitada de projetos e uma demanda maior. Segundo Pedro Vaquer, a fonte solar fotovoltaica está ficando mais barata, sendo uma das mais competitivas. No submercado Sudeste, por exemplo, ela já é a mais competitiva. Isso implica que, desde que o sistema comporte uma alta penetração de renováveis variáveis, o crescimento se torna bem interessante. Neste contexto, a expectativa de Vaquer para a fonte fotovoltaica é uma forte expansão nos próximos anos.

De acordo com Marcio Trannin, o mercado regulado vem com uma contraparte muito forte: o próprio governo ou ainda um conjunto de distribuidoras. Já no mercado livre de energia, o risco se torna maior quando a contraparte deixa de ser a mesma, tornando a financiabilidade um dos desafios para os agentes. Ainda que o crescimento da solar fotovoltaica acarrete desafios operacionais ao sistema, a literatura internacional aponta que eles podem ser facilmente superados. A abundância do recurso da fonte solar fotovoltaica permite que sejam atendidos pontos na rede, de acordo com a necessidade do cliente e do próprio sistema.

Ricardo Barros complementou dizendo que o grande desafio e a grande virtude da energia solar fotovoltaica é se adaptar ao cliente, tanto aos tipos de contrato, quanto ao local de entrega. A fonte é muito competitiva no Brasil inteiro e os resultados no mercado livre de energia têm mostrado isso.

É possível mapear os agentes que atuam no mercado livre de energia?


Marcio Trannin afirmou que os agentes que atuam no mercado livre de energia não mudam muito em comparação ao mercado regulado. No entanto, diferente do mercado regulado, no mercado livre o primeiro pilar fundamental é o consumidor, que tem se mostrado exigente. O segundo pilar é o desenvolvedor do projeto. Neste segmento, o vencedor não é o melhor projeto, mas o melhor projeto para determinado cliente. O terceiro pilar é o agente financiador, que tem de se reinventar, já que a dinâmica do mercado é diferente.

Para Ricardo Barros, o mercado estava acostumado a participar de dois ou três leilões por ano e vender a energia com contratos bancáveis de vinte anos, que os bancos financiavam bem. Agora, a realidade tem sido atender a diferentes perfis de consumidor. “O desafio neste cenário é fazer um mix de contratos de tal forma a equilibrar a bancabilidade, a rentabilidade dos projetos e, ainda assim, se adequar às necessidades do cliente”, disse. Por outro lado, o mercado tem visado a digitalização. Segundo o Country Manager da Light Source BP, no futuro, as empresas poderão comprar energia digitalmente, como hoje acontece com pacotes de internet no mercado de telefonia móvel.

Alecio Barreto fala sobre o risco de conexão


O CEO da Carpe Vie mencionou que, em apenas três meses após a emissão da nota de conexão do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), diversos projetos tiveram conexão negada. Segundo ele, para evitar o risco, os empreendedores têm de fazer estudos e revisá-los constantemente. “É necessário sempre estar atento a oportunidades e desafios, de modo a mitigar este risco, já que ainda não se tem mecanismos para mapear os projetos no mercado livre de energia na margem de conexão” disse.

A discussão tem acontecido entre as entidades do setor elétrico, para que sejam sinalizados locais com demanda acima do esperado. Atualmente, a conexão só é garantida com a assinatura dos contratos CUST e CCT. O ONS já está antecipando o problema e considerando para análises internas a possibilidade de contabilizar projetos ainda em trâmite, com solicitação de acesso solicitada.

Segundo Alecio Barreto, para o caso do Norte de Minas, é necessário um planejamento profundo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para subsidiar o Ministério de Minas e Energia (MME) e a Aneel, de modo a estabelecer novos leilões de transmissão. Até que estes leilões aconteçam e as novas linhas estejam operacionais, haverá um atraso de alguns anos.

Trannin comentou que este problema não ocorre apenas no Brasil. “O esforço para crescimento da rede tem de acompanhar o crescimento das energias renováveis; é necessário parar de pensar no Brasil nos moldes do mercado regulado, quando os leilões permitiam tempo para planejamento”, afirmou. Para o Vice-Presidente da ABSOLAR, será necessário olhar áreas do Brasil mais propensas ao crescimento e criar a infraestrutura de transmissão necessária nesses locais.

Tendo em vista o investimento e os empregos gerados pela energia solar fotovoltaica no Brasil, Ricardo Barros considera que será essencial antecipar a construções das linhas de transmissão, para que a expansão da fonte continue a gerar empregos e investimentos. Nesse sentido, a ABSOLAR está trabalhando junto à EPE e ONS. Adicionalmente, ele destacou a importância de uma boa escolha do fornecedor de energia. “Em MG, por exemplo, considerando as outorgas e despachos de registro de outorga (DRO), há mais de 30GW e o consumidor tem de escolher uma parte sólida que tenha capacidade de tocar os projetos”, explicou.

O investidor entre o mercado livre de energia e o ambiente de contratação regulada


Para Marcio Trannin, a isonomia torna-se fundamental para o investidor, que é o mesmo nos mercados livre de energia e regulado. Se um determinado agente desenvolve um projeto no mercado livre de energia em um dado ponto de conexão, a ocorrência de um leilão naquele mesmo ponto pode provocar a perda do ponto, bem como dos montantes investidos. Outro problema é metodologia de cálculo da TUST, diferente entre mercado livre de energia e ambiente de contratação regulada. A ABSOLAR tem defendido a previsibilidade e a isonomia entre os dois mercados, já que ambos terão de coexistir.

Para Ricardo Barros, a TUST é o maior custo operacional de uma usina solar fotovoltaica, com os custos superiores aos de toda a operação e manutenção das usinas. “O gerador poderia ser mais competitivo no fornecimento de energia ao cliente se fosse adotada outra metodologia. Adicionalmente, é importante garantir a isonomia na contratação dos leilões regulados”, afirmou. Ao se analisar a contratação dos últimos leilões e dos planos de expansão realizados pela EPE, ainda que a energia solar fotovoltaica seja a fonte mais competitiva, apresenta uma contratação inferior às outras fontes, imputando maiores custos de energia elétrica aos consumidores.

Salas privativas


Durante o ABSOLAR Inside, os telespectadores tiveram a oportunidade de participar de duas salas privativas com conteúdos oferecidos pela CLAMPER e a Jinko. Confira o que rolou em cada uma:

Sala CLAMPER – Aplicação de Proteção Contra Raios e Surtos Elétricos em SFV

A CLAMPER, empresa 100% brasileira, fundada em 1991, trabalha com Dispositivos de Proteção contra surtos elétricos (DPS). Segundo a apresentação do Thiago Gomes, Coordenador de Suporte Técnico da CLAMPER, a proteção de sistemas solares fotovoltaicos contra descargas elétricas pode ser feita calculando o período entre uma descarga elétrica e outra.

Este cálculo pode ser feito de duas formas: pela incidência de raios no módulo fotovoltaico ou em um raio de 500m ao redor dos módulos fotovoltaicos. Independentemente dos cálculos utilizados, é necessária a utilização de Dispositivos de Proteção conta Surtos (DPS) para proteger o sistema das oscilações de corrente que as descargas atmosféricas podem trazer.

Sala Jinko Solar – Diferenciais técnicos dos produtos Jinko

Nesta sala, Gustavo Silva, Gerente Técnico da Jinko, apresentou as diferenças entre os módulos solares fotovoltaicos da Jinko em relação aos concorrentes no mercado. Ele afirmou que a empresa se baseia em uma pirâmide, cuja base é a durabilidade, seguida da confiabilidade e da potência. A durabilidade é garantida por um processo de fabricação avançado e o uso de componentes de qualidade.

Segundo ele, em um módulo fotovoltaico, as falhas acontecem com maior probabilidade por conta do backsheet que, no caso da Jinko, utiliza o Tedlar, da marca Dupont – considerada por estudos como a tecnologia que apresenta a menor probabilidade de falhas. Adicionalmente, ele apresentou a nova linha de módulos da Jinko: Tiger e Tiger Pró.

Principais dúvidas dos telespectadores são respondidas pelos convidados


Durante um momento do programa, a jornalista Priscila Brandão abriu espaço para que os convidados respondessem perguntas feitas pelos telespectadores. Confira abaixo:

Como o mercado está enxergando e criando soluções para a financiabilidade dos projetos no ACL, dado o curto/médio prazo dos PPAs?

Ricardo Barros: não existe uma solução única de mercado. Cada projeto é específico e depende do risco de crédito dos clientes, do agente financiador e bancos que concederão a fiança bancária. O mercado tem visto, inclusive, clientes fornecendo garantias. Ainda assim, para 90% dos projetos, os recursos têm vindo do BNDES, BNB e, eventualmente, de alguma complementação com debêntures. A inovação do mercado tem acontecido em negociações que aumentam a lucratividade e a bancabilidade.

Como o dólar e o mercado chinês de módulos fotovoltaicos estão afetando o Capex dos projetos e o preço final da energia para o mercado livre de energia?

Marcio Trannin: o câmbio tem um forte impacto nos projetos, especialmente porque o mercado trabalha com importações. É natural que um câmbio instável faça com que a previsibilidade do Capex seja difícil, mas este é um desafio de todo o setor. Tanto no mercado regulado como no mercado livre de energia, tem-se utilizado hedge, que não é um produto barato. Neste segmento, é possível gerar outros mecanismos. Existem casos nos quais o próprio consumidor se sente à vontade para compartilhar alguns tipos de risco. Em alguns momentos, também são estipulados mecanismos que permitem a flutuação de preços, indexados ao dólar, dentro de limites mínimos e máximos aceitáveis no contrato.

Ricardo Barros: este risco trouxe ideias fora da caixa. Existem mecanismos contratuais indexados ou ajustados no longo prazo, em dólar, que funcionam como um hedge natural, tanto para o agente gerador como para o consumidor, que por vezes também exporta e tem receita em dólar.