Episódio 3 – Fazendo acontecer

Segunda temporada do ABSOLAR Inside finaliza com dicas de financiamento e projetos


O último episódio do programa digital da ABSOLAR no dia 5 de novembro de 2020, trazendo mais dicas importantes sobre o segmento do mercado livre de energia. A apresentadora Priscila Brandão e o âncora e Vice-Presidente da ABSOLAR, Marcio Trannin, receberam Camila Ramos, Diretora da CELA, para falar a respeito dos novos mecanismos e riscos de financiamento. O time ficou completo com a participação de Leonardo de Almeida Alonso, Gerente do Departamento de Energia Elétrica do BNDES, e Raphael Gomes, sócio da área de Energia e Recursos Naturais da Demarest. Confira abaixo tudo o que rolou no terceiro episódio do ABSOLAR Inside.

Os principais desafios do financiamento no mercado livre de energia


O programa começou com Camila Ramos explicando a relevância do mercado livre de energia em seu papel de ser uma tendência global e uma grande oportunidade para o mercado renovável. A Diretora da CELA destacou os dados da Bloomberg, que, em 2019, revelou que as compras no ACL superaram os 20 GW e, neste ano, 9 GW. O grande driver, no entanto, tem sido a demanda por eletricidade livre e renovável. “Instituições financeiras têm se adaptado a essa realidade: muitas aderiram a 100% de energias renováveis em suas matrizes”, disse.

Para Camila, os financiamentos em projetos de energias renováveis precisam ser viáveis para consumidores e investidores. A CELA realizou um estudo sobre PPAs no mercado livre de energia do Brasil, equivalentes a 1 GW médio contratado e 1 GW médio em contratação. O levantamento mostrou que os prazos das PPAs estão mais longos, entre 10 e 15 anos. “O perfil do consumidor também está mudando: compradores eram em sua maioria concessionárias e agora são os consumidores finais. Estruturações também estão migrando de produtores independentes para a autoprodução”, explicou.

A mudança de paradigma impacta todos os stakeholders. De acordo com a Diretora da CELA, migramos de um modelo de vendas no mercado regulado que tinha bastante concorrência entre competidores, resultando em preços baixos, para um contexto no mercado livre com condições de contratos bem diferentes. “Para vencer um leilão no Ambiente de Contratação Regulado (ACR), o capital era a principal variável do projeto. Já no mercado livre de energia, ter acesso ao cliente é o maior diferencial” comentou.

No mercado livre de energia, a diversificação é muito maior, segundo ela. Os bancos de desenvolvimento possuem taxas atrativas, porém, há também a participação crescente de debêntures incentivadas, classificadas como títulos verdes. Estes incentivos promovem benefício de estruturação customizada para as necessidades do emissor. Marcio Trannin complementou informando que ainda existe carência de alternativas de financiamento. “Apesar do setor ter as debêntures, mecanismos de equity e financiamento de bancos de desenvolvimento, o mercado vai deslanchar mesmo com o aumento da oferta de alternativas de financiamento’, disse.

A autoprodução de projetos solares fotovoltaicos


Raphael Gomes falou sobre o principal desafio de investidores de projetos solares fotovoltaicos em encaixar um modelo de autoprodução em seus negócios. Para ele, a autoprodução está inserida em uma janela de oportunidade que pode se fechar a qualquer momento, o que explica a corrida para fechamento de operações durante a pandemia. Um modelo amplamente utilizado é a autoprodução por equiparação – conhecida também como autoprodução Lego – que traz mais flexibilidade na alocação de riscos. Ele utiliza estruturas diferentes a partir de conceitos regulatórios, societários e operacionais nas regras de comercialização.

Para o sócio da área de Energia e Recursos Naturais da Demarest, o benefício de ser um autoprodutor é não recolhimento de diversos encargos incidentes na carga, que podem proporcionar a redução de 20% a 30% nos custos globais de energia do consumidor. Isso faz com que o gerador negocie um spread maior. Há também o diferencial em relação a metas de sustentabilidade de empresas em seus países-sede.

Raphael também destacou os desafios no momento de viabilizar um PPA com autoprodução. Neste caso, é agregar a matriz de risco desenhada nos instrumentos societários, que é o contrato de opção de compra de ações e o acordo de acionistas. O desafio está em elaborar documentos societários com conhecimento regulatório e elaborar PPA conhecendo os conceitos societários. Já o PPA em dólar merece atenção redobrada. Segundo ele, são necessários três elementos para a proteção do contrato a análises externas: a conexão com uma ou mais exceções legais, substância econômica e o efeito interpartes.

Marcio Trannin destacou a fala do participante como dois temas complexos. “O primeiro ponto é que somos criativos nas formas de negociar, dando o nome de ‘autoprodução Lego’. A autoprodução é um produto complexo e uma demanda de 9 em cada 10 consumidores que solicitam PPAs no mercado livre. Acabou o momento em que se fechava um PPA sem considerar a autoprodução. Comercializadoras, por outro lado, compram PPA puro e, ao repassar para consumidores, consideram a autoprodução”, disse. Em relação ao primeiro PPA em dólar, o âncora informou que o mercado mostra, na prática, que é possível inovar e adequar necessidades dos consumidores ao rígido mercado elétrico. Camila Ramos complementou dizendo que, ao conversar com agentes do setor no início do ano, eram poucos que estavam a par dos conceitos da autoprodução. Hoje, todos tentam entender. “Bancos já conhecem um pouco melhor o financiamento da autoprodução e vão percorrer esta curva de aprendizado; projetos tem que ser estruturados para não trazerem risco regulatório”, informou.

A financiabilidade de projetos na expansão da energia solar no mercado livre de energia


Segundo Leonardo de Almeida Alonso, o mercado livre de energia tem ganhado cada vez mais destaque nos últimos anos e destacou a necessidade que o BNDES teve de conhecer os riscos do segmento. Em 2018, o BNDES deu o primeiro passo e lançou o “PLD Suporte”. Em 2019, lançou a nova metodologia de preço suporte, estabelecendo diferentes valores para energia descontratada e permitindo maior flexibilidade comercial dos clientes para contratação de energia descontratada nos mercados de médio, curto e até longo prazo.

O Gerente do Departamento de Energia Elétrica do BNDES informou que a metodologia de preço suporte pressupõe que o cliente assuma obrigações adicionais relacionadas à capitalização do IPCA. Neste caso, o cliente deverá manter pelo menos 75% de sua energia contratada quatro anos à frente. Se o cliente optar por pagar variação de IPCA juntamente com parcela de principal e juros, também terá que manter 75% da energia contratada nos primeiros dez anos e, a partir do 11º ano, a obrigação cai para 50% da energia. Por fim, caso o cliente opte por um projeto merchant 100% descontratado, o preço suporte passa a ser de R$90, sem obrigação de contratação mínima de energia. Com isso, a parcela de IPCA deverá ser paga com juros.

A apresentação da metodologia pode ser vista no site do BNDES. A outra contribuição do BNDES ao desenvolvimento do setor solar fotovoltaico foi a alteração da política de financiamento para sistemas fotovoltaicos, que entrou em vigor em agosto.

As atualizações do mercado livre de energia na visão das instituições financeiras


Segundo Leonardo, o sistema fotovoltaico que tiver conteúdo nacional de pelo menos 30%, com trackers ou inversores credenciados no BNDES, poderá ser financiado. Neste caso, o spread do banco é igualado às outras fontes de energia elétrica. “Acreditamos que a alteração da política de financiamento e a nova metodologia de atuação do banco no mercado livre darão grande impulso ao desenvolvimento do setor”, disse.

Segundo Camila Ramos, as novidades do BNDES são importantes, pois mostram que instituições financeiras trabalham para acompanhar as atualizações do mercado livre de energia. Ela acredita que a análise de consumidores e investidores se torna importante para mitigar riscos.

Marcio Trannin complementou dizendo que aqueles que entendem o papel do BNDES no fomento da matriz elétrica e enxergam a flexibilização do banco para a contratação de energia solar fotovoltaica percebem a mudança de paradigma e a necessidade de adequação do banco às necessidades do mercado. “O BNDES e o BNB têm que evoluir por uma questão de sobrevivência. O Brasil não pode se sustentar com plantas estritamente merchant; o preço spot se justificava em momento de escassez de energia”, disse. O âncora acredita que, no contexto atual, o preço spot flutua muito e dificulta a sustentabilidade de financiamentos. “O PPA passa a ser primordial para se buscar financiamento e um PPA de longo prazo é o que o banco busca. Se o setor quiser surfar as melhores ondas, terá que conviver com esta realidade diferente”, explica.

Salas privativas


Durante o ABSOLAR Inside, os telespectadores tiveram a oportunidade de participar de duas salas privativas com conteúdos oferecidos pela CLAMPER e a Jinko. Confira o que rolou em cada uma:

Sala CLAMPER – Aplicação de Proteção Contra Raios e Surtos Elétricos em SFV

Nesta sala privativa, Thiago Gomes, Coordenador de Suporte Técnico da CLAMPER, apresentou a empresa especialista em Dispositivos de Proteção Contra Surtos (DPS), fundada em 1991, com sede em Lagoa Santa, Minas Gerais. Segundo ele, estes equipamentos são de extrema importância, principalmente no Brasil, que lidera o ranking mundial de maior incidência de descargas atmosféricas. Estas descargas causam danos em equipamentos, que somados, atingem a marca de R$ 1 bilhão por ano.

De acordo com Thiago Gomes, garantir a segurança e a durabilidade dos equipamentos, no caso dos sistemas solares fotovoltaicos, é extremamente importante. O coordenador informa que é possível constatar o período entre as descargas diretas e indiretas em um sistema, no perímetro de 500m do sistema solar fotovoltaico. O período entre descargas diretas pode ser obtido por meio da área em que o sistema está instalado e um índice médio entre descargas. Já o período entre descargas indiretas, é calculado considerando um perímetro de 500m no entorno do sistema solar fotovoltaico, já que as descargas atmosféricas, mesmo que não aconteçam diretamente no sistema, geram campos eletromagnéticos que podem danificar os equipamentos. Este tipo de ocorrência pode ser bem frequente, mesmo em sistemas menores, evidenciando a necessidade da implementação deste tipo de proteção.

Sala Jinko Solar – Tire suas dúvidas sobre os produtos da Jinko

Na sala privativa, Eduardo Gama, Gerente Comercial da Jinko Solar, respondeu algumas perguntas frequentes que a empresa recebe. Confira:

Quais são os produtos, globalmente falando, que estão sendo desenvolvidos pela Jinko? Qual a expectativa para os produtos no ano de 2021?
No Brasil, a Jinko tem trabalhado em famílias nas potências de 400 W (Cheetah). A família do Tiger Pro tem categorias de 60 (até 440 W), 72 (até 540 W) e 78 células (até 585 W).
A empresa tem bifacial no Brasil e produtos da família Tiger. Eduardo informou que há certa mudança no mercado com fabricantes focando em células monocristalinas e apenas aquelas com potências acima de 400 W tendem a ser trabalhadas.

Há alguma solução no campo de armazenamento sendo desenvolvida pela Jinko ou parceiros?
O armazenamento é o próximo grande passo para o desenvolvimento de energias renováveis e fabricantes trabalham de maneira paralela para o desenvolvimento de produtos. A Jinko espera lançar novidades neste segmento. Para efeito de comparação, a empresa apostou em células de 182 mm, que acredita que teriam o melhor breakeven, e aumentou a potência de módulo inserindo diferentes tecnologias. A escolha desta célula se deve à maturidade e confiabilidade. Células de 210 mm apresentam menor resistência mecânica.

Principais dúvidas dos telespectadores são respondidas pelos convidados


Durante o programa, a jornalista Priscila Brandão abriu espaço para que os convidados respondessem perguntas feitas pelos telespectadores. Confira abaixo:

Quais as diferenças para a Unidade Consumidora entre a migração para o ACL como consumidor e como autoprodutor?

Marcio Trannin: quando se decide migrar do mercado cativo para o livre, é necessário se tornar um agente da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Dependendo de como for migrar e em qual categoria, poderá assinar PPAs puros de venda de energia, dependendo de nível de demanda contratada. Se for produtor, fará jus às vantagens de abatimento de encargos setoriais que incidem sobre sua parcela de consumo.

É possível um investidor somente construir uma usina solar fotovoltaica e alugar esta usina para um grande consumidor de energia, que exerceria o papel de um autoprodutor?

Camila Ramos: esta é uma das variantes da autoprodução que tem sido estudada. Não ouvimos exemplos de estruturação desta forma. Em cenário de autoprodução de arrendamento, há contrato entre consumidor e gerador, não PPA ou SPA. Nesses casos, o gerador arrenda equipamento para o consumidor de energia.