Principais dúvidas dos espectadores são respondidas pelos convidados
Durante o ABSOLAR Inside, a jornalista Priscila Brandão abriu espaço para uma mesa redonda com os parceiros do programa, e para que os convidados respondessem algumas das perguntas dos espectadores. Confira:
A hibridização dos projetos solares e eólicos existentes pode ser a solução para evitar as restrições operacionais causadas de falta de margem de escoamento em diversos pontos do sistema?
Sandro Yamamoto: atualmente, o sistema de transmissão tem várias subestações com pouca margem de conexão de novos projetos. No entanto, se considerarmos projetos híbridos, há espaço para conectar projetos solares onde há eólicos e vice-versa. Há metodologia de margem de escoamento. Podemos evoluir nesses cálculos e subestações com margem zero podem ter viabilidade para receber projetos híbridos. Mas é necessário a realização de mais estudos e linhas de transmissão para a conexão de todos os projetos.
Como são vistas as diferenças entre os projetos de geração centralizada, especificamente para projetos híbridos, e de geração distribuída sob o ponto de vista de financiamento?
Carolina Reis: a diferença é o porte, pois um projeto pequeno tem risco menor. São processos distintos de análise de crédito, projetos grandes têm procedimento de financiamento pela área corporativa do banco, que atua em ambos os segmentos, e não pela plataforma Meu Financiamento Solar para geração distribuída.
Qual o potencial de desenvolvimento de usinas híbridas no Brasil?
Rodolfo Meyer: o potencial é pleno e inevitável. Não há outra opção ao longo prazo além de hibridizar projetos, considerando a mitigação de oferta de fonte em horários específicos. Híbrido entre solar, eólica e armazenamento tende a regular escoamento ao fio, chegaremos ao objetivo de casar oferta com a demanda. Já para o lado da geração distribuída, a questão está na certificação de inversores híbridos.
Como tem visto as novas oportunidades e desafios trazidos pelos projetos híbridos, sob o ponto de vista logístico?
Rafael Puglia: a Vendemmia é uma empresa de logística e a complexidade para planta solar ou hibrida é muito grande. Pelo porte ou localidade, a logística tem impacto financeiro forte no projeto. Além de desafios regulatórios e logísticos, há sinergia logística e operacional natural. Equipamentos com um único destino reduzem o custo do projeto. Equipes e equipamentos serão compartilhados também. Há muita possibilidade de economia nesses projetos.
A primeira usina hibrida paga dois “encargos de uso do sistema de transmissão” separados?
Diego Bittner: hoje, com a regulamentação não aprovada, o pagamento é segregado. Cada um paga 100% da potência de seu empreendimento. Com o hibridismo, a ideia é que seja aproveitado. Entende-se que com o projeto aprovado não precisará pagar encargo adicional, o acoplamento se dá sem custo adicional.
Sandro Yamamoto: não há custo adicional, sendo que essa é a proposta do setor.
A questão cambial pode impactar o desenvolvimento dos primeiros projetos híbridos no Brasil?
Rafael Puglia: a variação cambial impacta qualquer grande projeto de infraestrutura. A alta do dólar gerou a postergação de investimentos e há a busca pelo timing perfeito da moeda para continuar a investir.
Existem planos de desenvolver plataformas análogas para projetos de geração centralizada?
Carolina Reis: ainda não, por conta de características específicas desses projetos. O contato ainda tem que ser feito direto para análise.
As usinas híbridas de grande porte vêm sendo discutidas pela Aneel, mas ainda não há projetos em operação. No caso da geração distribuída, tem espaço para o avanço desse tipo de projeto no futuro?
Rodolfo Meyer: a única coisa que impede é a regulamentação, falta de framework legal. Atualmente, há sistemas com bateria vendidos como se fossem off-grid. Mesmo com conexão, tem sistema de ilhamento. Dependemos dessa liberação por parte do Inmetro, mas a maioria dos distribuidores estão prontos.
Caberia aplicar o excesso de produção de energia da planta híbrida com armazenamento em baterias?
Sandro Yamamoto: sim, com sistemas de armazenamento o excesso pode ser colocado na bateria, sem desperdiçar essa energia, podendo colocá-la de volta na rede depois.
Quando os financiamentos do Banco BV podem abrir condições para as empresas integradoras que ainda não possuem três instalações (projetos concluídos) necessárias para a adesão ao financiamento ao cliente?
Carolina Reis: o critério é para minimizar riscos, dada a grande entrada de empresas. Mas é necessário analisar caso a caso.
Além da hibridização entre solar e eólica, como está avançando a regulamentação da hibridização entre essas fontes e hidrelétricas, em especial no momento atual de baixa capacidade nos reservatórios?
Diego Bittner: a regulamentação que está sendo discutida não restringe para nenhuma fonte. Um exemplo é o projeto de P&D, em Sobradinho, que tem estudado solar flutuante. A ideia é aproveitar a localização e infraestrutura de rede. Recentemente nos Estados Unidos, a Enel inaugurou uma geotérmica com solar fotovoltaica.
Como as discussões do marco legal da geração distribuída que estão acontecendo no Congresso podem afetar esses projetos?
Rodolfo Meyer: é uma grande incerteza do setor. De um lado, temos a proposta da Aneel, que por partes não está sendo bem-vista. Do outro, o marco legal traz condição mais coerentes com a transição da solar fotovoltaica na matriz, com queda gradativa de subsídios. O projeto de lei nos parece mais ponderado e acreditamos que a proposta deve garantir a transição. Já a proposta da Aneel traz queda muito brusca de transição para investidores.
Como funciona a logística de baterias para projetos híbridos?
Rafael Puglia: a logística de baterias é um pouco complexa, considerando a classificação de produtos com risco e, consequentemente, custo maior do que produtos sem esse risco. A certificação e homologação também é burocrática. Terceiro ponto é o descarte, desde 2010 há uma política nacional de resíduos sólidos para que produtos sejam corretamente descartados.
No caso de financiamento para usinas híbridas, muda algo no processo?
Carolina Reis: projetos de solar fotovoltaica têm riscos específicos de performance e segurança do local. O projeto híbrido, se tiver bateria, incluirá mais variáveis. Mas, da perspectiva técnica, o processo é o mesmo. Hoje financiamos qualquer porte de projeto.